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Parte 1 (1/2)

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por Vaughn D. Valenttine » 18/06/2017 às 21:24:38
Título: Parte 1 (1/2)
Vaughn D. Valenttine
 

"She's here!" Como acontece quando sonhamos, a voz veio de lugar nenhum. Como acontece quando nossos sonhos são lúdicos, todo um ambiente formou-se frente a Isabelly. O que estava acontecendo? Ela não sabia, apenas que se lembrava de cair e cair... até chegar ali. Ali. Onde era ali? - Meredith. - Pegou-se susurrando, ou melhor, tentando sussurrar. Percebeu que os lábios não se abriram. Percebeu também que virou o rosto de repente, um gesto que não era seu, e em seu campo de visão entrou uma menina. Loira, olhos claros, cabelos que quase chegavam a cintura, uma postura de quem sabia tudo sobre todos e a fala em inglês ao invés de francês. O quê...? "Perdão pela demora, mademoiselle. Isabelly aqui não costuma ficar conosco." Sentiu um braço envolvendo-a, pequeno, tão pequeno que talvez não fosse capaz de alcançar metade de seu pescoço. Tirando o fato de que envolveu-a até o ombro oposto.

"E-e-eu." Dessa vez, a voz que escapou não era sua. Bem, era. Tinha o mesmo timbre, um tom de medo que marcou-a por muito tempo anos antes, e trazia consigo uma sensação ruim na garganta. Isabelly lembrava-se muito bem de quando falava assim, mas sabia que foi há muito tempo. Engoliu em seco, e percebeu a face virar-se na direção da diretora (maldita diretora, aliás), sentindo o corpo encher-se de terror outra vez. Conscientemente, não entendia o que estava acontecendo, mas seu inconsciente parecia determinado a viver aquela experiência. "Perdão, madem- madame. O que a senhora gostaria de falar comigo?" Soube que falou a coisa errada no momento que a madame reagiu com uma careta. Soube também que pagaria o preço no mais tardar.

"Quatro anos e meio e você ainda não aprendeu, menina? Humpf, essas crianças! Acompanhe-me, senhorita Runcorn. E trate de colocar uma expressão mais feliz no rosto. Vieram te buscar." Buscar, buscar, buscar... As palavras repetiram-se em sua cabeça. Não eram os pensamentos da Belly consciente, aquela que comeu e caiu no sono sob o efeito do que parecia uma poção, e sim da menininha que agora, ao invés de medo, parecia sentir um pouco de esperança. Seria aquilo uma memória? Não fazia sentido... fazia? "H-hm, certo, madame. Já estou indo, madame" Claro, buscar! Havia um casal... um casal? Bom, havia, podia vê-los com clareza. Uma moça, alta, magra, de cabelos ruivos e pele bronzeada, que parecia uma modelo. E um cara, um pouco mais baixo, com uma expressão cansada. Lembrava-se deles em jantares, em como fizeram perguntas para si, até conversavam consigo. Não era ruim, não mesmo... normalmente não falavam com ela, a não ser que fosse para coisas ruins.

***


O senhor e senhora Montagne orgulhavam-se em dizer serem uma das famílias mais famosas da França. Construíram um império para si, ele, Anthony, através do mercado imobiliário, e ela, Dione, herdou os negócios da mãe, envolvida em meios de comunicação televisivos. Casaram-se cedo, contra as vontades da família de Dione, até que a benção foi dada através de dinheiro - se ele enriquecesse, permitiriam o andamento da união. Os detalhes não são importantes, mas sabe-se que aquela foi uma jogada de sucesso. A única jogada frustrada para o casal era total incapacidade de Anthony em gerar filhos. Como tal, adoção tornou-se a única opção válida, e partiram em busca de uma criança.

Foi só uma questão de tempo até encontrarem Isabelly. Em termos de aparência, era exatamente o que procuravam: uma menina que se parecesse com eles, de cabelos claros e olhos azuis, preferencialmente com um olhar doce e postura delicada. Melhor ainda se falasse pouco. Não tinha todo o tempo para oferecer e quanto menos educando, melhor; aquela parecida muito jeitosa. Sabiam que adoção era um processo difícil para algumas crianças, mas queriam facilitar as coisas tanto para si quanto para a escolhida. Outro ponto a favor era que aquela, como ficaram sabendo, não tinha família fora dali; nunca passariam por algum escândalo envolvendo pais lutando por ela na justiça ou parentes interessados. Por fim, era realmente uma menina apaixonante, assim vieram a descobrir nas poucas chances que tiveram.

"Ah, Isabelly, querida! Que bom que está aqui. Imagino que já tenham te passado uma das últimas notícias?" Dione, sempre bem controlada, fazendo o que era necessário e mantendo a postura perfeita, agora parecia um tanto quanto emocionada em comparação a seu eu natural. Falava rápido, mesmo sabendo que poderia ser demais para a criança, porque ela própria estava feliz de estarem prestes a adotar alguém. Bem, não era uma adoção, Isabelly passaria alguns meses na casa deles antes de decidirem, mas em sua mente tinha certeza que aquela era a menina perfeita. "Nós estamos tão felizes. Você vai adorar nossa casa." Piscou para a pequena, percebendo a postura defensiva; respirou fundo, então, e agachou-se, ficando na altura da menor. "Nós queremos o seu melhor. Não se preocupe, ok?"

Já Isabelly observava tudo com a face que lhe era comum; olhos observando a todos, uma leve dose de preocupação, agora misturada com esperança e um pouco menos de medo que o comum. Confiava em Dione. Era algo estranho, confiar em alguém, mas diferente dos outros a moça nunca lhe fez mal algum, e parecia sempre animada ao vê-la. Mesmo Anthony, com a pose um pouco mais durona, era gentil. Talvez eles fossem boas pessoas. Queria acreditar que sim. "Ok." Murmurou, tentando forçar um sorriso, prendendo as mãozinhas ao redor da cintura; queria se proteger, mas também queria estender a mão. Talvez conseguisse. "E-eu... Fico feliz." Tentou, percebendo certa sinceridade ali. "Nós também, pequenina. Nós também." Percebeu quando Dione piscou para si e se levantou.

"Você não se importa em esperar um pouco, se importa?" Fala essa que foi recebida com uma remexida da cabeça por parte de Isabelly. "Eu preciso buscar minhas coisas?" Questionou, mas foi Anthony quem deu um passo a frente para responder. "Suas malas já estão feitas." O plural, claro, chamou a atenção da pequena. Escutou com clareza o sussurro seguinte. "Compramos algumas coisas para você. Perdão se tudo está acontecendo rápido demais, Dione e eu não queríamos esperar. Mas prometo que faremos de tudo para que você se sinta em casa." A fala trouxe uma risada baixa aos lábios da menor. Só de ouvir o plural, malas, já era algo bem... diferente... do que se habituara. Ela não tinha coisas para encher metade de uma, quem dirá mais.

Documentos seriam assinados, seu futuro discutido, provavelmente, e então ela iria para outro lugar. Foi a primeira vez que Isabelly perguntou-se se seria capaz de chamar um espaço de casa. De fato, o orfanato nunca foi uma. Mas talvez, só talvez, ainda restasse alguma esperança para si... e ela, com quatro anos e meio, mais vivída que muitos de sua idade, se agarrava àquilo. Mais do que se agarrava ao bichinho de pelúcia em sua cama.

Muito porque ela nunca teve um.

(...)

Em sua pouca vida, Isabelly nunca esteve sentada num assento tão confortável. Aquela era uma observação clara quando ajeitou-se no banco alcochoado, tão pequena que as perninhas não escapavam; era era um veículo incrível, sabia, muito diferente da vã velha com a qual "passeava" todo dia para ir a escola, mas não foi esse o fato que lhe chamou a atenção, e sim o pensamento de que se pudesse dormiria ali mesmo todos os dias da sua vida. Na verdade, faria tudo ali.

"Tudo bem aí atrás?" A voz de Anthony a tirou dos devaneios, quando percebeu que ele postava-se no lado esquerdo, em frente, pronto para dirigir; do outro lado de onde ela estava, Dione entrava com um sorriso ao rosto, carregando uma bolsa extremamente chique que, sabia, estava algumas gramas mais pesadas com os documentos assinados. "Espero que você não se importe se eu lhe fizer companhia." Percebeu quando ela se aproximou um pouco mais, colocando uma das mãos em seu ombro; percebeu também como seu corpo tremeu, e o fato dela ter percebido. Nunca ninguém tocava em si, a não ser que fosse para machucá-la.

"Tudo bem." O sorriso caloroso de Dione amenizou um pouco do medo da menor, mas ainda não era o bastante; era esquisito estar ali, afinal, num carro moderno, indo para longe do orfanato. Minutos antes tinha visto uma fileira de meninas dando tchau e, talvez, vários Graças a Deus por ela estar indo embora, junto com exclamações de inveja. Agora, no entanto, era tudo mato e as duas pessoas que talvez viesse a conhecer como... não, ela não estava pronta para aquelas palavras. "Me diga, pequenina." As palavras trouxeram-a para o mundo real outra vez. "Como você prefere ser chamada?" Em outra situação ela teria dito 'Perdão?' e pedido para repetir. Agora, no entanto, ainda estava meio assustada. "Quero dizer, Isabelly, Isa, Belly...?"

As palavras trouxeram certa clareza. Seus olhos praticamente saltaram, não de susto, mas encantamento. Ninguém nunca perguntou aquilo antes, não para valer. Quase sorriu. "Eu... erm... Belly. Eu gosto de Belly." Belly. Ela poderia se acostumar com aquele apelido."Muito bem, Belly será. E você pode nos chamar da forma que desejar." Dessa vez, o sorriso da outra fez com que mostrasse um em retorno, o que só serviu para aumentar o de Dione. Mas, diferente do esperado, ficou feliz com tal reação.

(...)

As próximas duras horas passaram num flash para a pequena. Continuava assustada, um tanto quanto sobrecarregada com o tanto de informações que precisava digerir, mas não era exatamente ruim. Dione era nada mais nada menos que calma consigo, contando fatos sobre a própria vida, além de Anthony, por vezes parando para que ela tivesse tempo de processar tudo. De vez em quando Isabelly fazia um som, algum gesto, para indicar que estava ouvindo, e às vezes respondia com um comentário, ainda que nunca longo. Mantinha uma espécie de fachada, algo para se proteger, porque não conhecia verdadeiramente o casal, mas parte de si estava aliviada por parecerem boas pessoas. Bem melhores que qualquer uma das que conheceu até então.

Não percebeu quando dormiu, mas em algum ponto o corpo desistiu de manter-se acordado. Sentiu, claro, quando Dione cutucou-a de leve, sussurrando que era hora de se levantar. "S-sim?" Tentou, um bocejo escapando antes que tivesse a chance de observar a mulher interessada em adotá-la, percebendo que o balanço comfortável do carro não existia mais. Chegaram. "Estamos aqui. Sua nova casa." Dione piscou para a pequenina, mas logo a atenção da outra foi para a porta de saída, pois Anthony apareceu e a abriu, estendendo uma mão em seguida. "O que acha de uma escolta, mademoiselle?" A fala trouxe um novo sorriso a face de Isabelly, que sacudiu a cabeça como se a dizer sim. Hesitante, mas curiosa, pois os pés para fora do carro, ao menos tentou, sentindo quando Anthony segurou-a pela cintura e colocou-a em baixo. Foi tão rápido que nem deu tempo de se assustar.

Claro, a casa que apareceu frente a sua visão foi mais do que o bastante para parar de pensar no que aconteceu antes de chegarem ali.

Enorme e moderna não começariam a descrever. Luxuosa talvez não fosse o bastante. Fantástica, um pouco assustadora e imponente também não serviam. Majestosa, talvez, poderia começar uma descrição. Era... de tirar o fôlego. De fazer prender a respiração. O tipo de casa que você se sentiria culpada só de estar nos jardins; Isabelly, por exemplo, levemente suja e com um vestido gasto, sentiu uma vontade enorme de fugir ao deparar com o lugar que deveria ser seu lar. A questão era, ali deveria caber uns 1000 orfanatos e sobrar! Era... enorme. A coisa mais enorme que já viu a vida inteira. Não conseguia descrever. O pequeno cérebro de uma criança de quatro anos não parecia suficiente para processar o local.

"Impressionante, não é?" Escutou a voz de Anthony, seguida por uma risada, e percebeu quando o casal agachou-se, cada um de um lado. "Peço perdão se for demais para processar. Ele sempre teve um gosto exagerado. Mas eu prometo que você vai gostar." Não se mexeu quando Dione começou a acariciar os fios de sua cabeça, simplesmente ficou ali, parada, observando o lugar. Ainda estava perdida entre o "Uau" e "Que lugar incrível" que queriam escapar de sua boca. Até tentou abrir os lábios para dizer algo, mas fechou-os constantemente; não conseguia mesmo pronunciar as letras do alfabeto, até sons eram complicados agora.

"Então, você quer entrar?" Não sabia quanto tempo se passou quando Anthony pronunciou tais palavras, parecendo ansioso para mostrar a criança tudo que havia lá dentro. Ele e Dione prepararam algumas surpresas, claro, e mesmo sem esse fator já era quase divertido passar pela "provação". Eram confiantes de que Isabelly gostaria da casa, se não se assustasse demais no processo. "Uhum." Foi tudo que saiu, respirando fundo e tentando um rosto que mostrasse determinação. Ela era uma menina determinada, afinal. Aprendeu a ser, fugindo das outras garotas e encontrando formas de se livrar ou de punições ou do bullying no geral. Não tinha medo de muita coisa, exceto quando se tratava de pessoas, mas agora, em frente àquela casa, com duas pessoas que queriam adotá-la, uau... era demais.

A entrada por si só era magnífica, e foi se sentindo cada vez menor enquanto andava, apesar do carinho do casal e de algumas piadas para aliviar um pouco a tensão. Ela sentia vontade de sumir, mas, agora, também sentia vontade de perguntar. Como conseguiram aquele lugar? Por quê? Quem mais vivia ali? Será que tinham cavalos? Ela tinha, alguns dias antes, visto a foto de um cavalo num livro e se impressionou muito. Talvez um daqueles tobogãs enormes, que as meninas viviam falando sobre... não duvidava que eles pudessem conseguir um se assim quisessem. Era demais demais demais mesmo. "Bem vinda, Is- Belly." Anthony murmurou, assim que entraram pelo Hall de Entrada. Bom, devia ser o hall de entrada.

(...)

"E esse é seu quarto."

Em quase uma hora, fizeram um tour inteiro pela casa. Isabelly não conheceu só as instalações, como também as pessoas que "moravam" ali. Um mordomo, três empregadas, um jardineiro, até mesmo vinha um cara de uma em uma semana para limpar a piscina. Cada vez mais percebia quão ricas aquelas pessoas eram. Dione e Anthony tinham maneiras carinhosas, ao menos consigo, e pareciam até um pouco humildes, mas o mesmo não podia ser dito de sua residência. Muito pelo contrário, aquele lugar era enorme. Isabelly ficou feliz, no entanto, que por dentro parecia um pouco comfortável, mais do que esperava. Até então já tinha se jogado em diversas cadeiras diferentes, inclusive um sofá que estava fadado a se tornar seu predileto, e Dione recusou-se a mostrar os exteriores; disse que precisavam visitar seu quarto antes, senão ela não sairia do exterior e não veria o lugar de dormir até bem mais tarde. Fez piada no meio, claro.

Finalmente, foram ao quarto. Anthony não, deu uma desculpa de precisar resolver algo, coisa que Isabelly assimilou, mas não pensou demais sobre, tamanho seu encantamento. Já Dione não saía de perto dela. Aqueles minutos com a moça só provavam mais e mais que ela era uma entusiasta sobre... bem, sobre tudo. Isabelly não sabia como ela agia no trabalho, na verdade Belly não sabia direito nem o que significava trabalho, mas tinha a impressão que sempre preferiria aquela versão. Fosse como fosse, estava muito feliz. Mais do que achou que ficaria.

Quando chegaram em seu quarto, no entanto, esse foi o momento que parou de respirar para valer. Ficou bem difícil pegar o ar, em parte porque nunca viu um cômodo tão imenso, em parte porque era lindo, cheio de brinquedos e quadros e todo pensado... nela. "Isso... Isso é meu?" Tentou, expulsando as palavras pela garganta, notando a expressão na face de Dione. De certeza ela passou boa parte de seu tempo escolhendo os móveis. Era tão incrível. A cama parecia a de uma princesa, e tinha uma cabiceira 'magnífica', e um espelho cheio de palavras que não eram dirigidas a si no dia a dia, talvez para aumentar a auto-estima. Não só isso, mas os brinquedos, e uma estante cheia de livros infantis - Isabelly se orgulhava em dizer que sabia muito bem o que eram livros -, além dos quadros. Um deles, de um navio no meio do mar, chamou demais sua atenção; era quase como estivesse se movendo.

"Então, o que você acha?" Mais uma vez, a voz de Dione a pegou de surpresa. Agora, no entanto, se sentia um pouco mais tranquila. O casal fazia de tudo pra mostrar que era para ela se sentir confortável e, apesar de ser bastante informação e não confiar realmente, conseguia deixar um pouco de lado a vontade de proteção. No orfanato, qualquer coisa que ela fazia era vista com maus olhos; ali, não. Ali, qualquer coisa que ela fazia era visto com um olhar carinhoso ou até mesmo uma risada, mas não uma risada de chacota. "É lindo. É... incrível. Tem certeza que isso é pra mim?" Franziu o cenho, virando-se para a mulher. Ela devia estar sonhando. Bom, se eu racional, aquele que comeu da mochila, estava mesmo, ou relembrando, tanto fazia, mas... a Isabelly de cinco anos, aquela não conseguia acreditar que os eventos recentes eram reais.

"Não se preocupa, é tudo seu." E, com isso, estendeu as mãos, deixando livre para Isabelly pegá-las ou não. "Você confia em mim?" Não gostava daquela pergunta. Talvez porque não a perguntassem. De fato, Isabelly não confiava; sempre foi ela por si, desde muito pequenininha. "Eu..." Tentou escapar, e acalmou-se ao perceber que não foi respondida com uma careta, e sim outra frase. "Pode tentar? Por dez segundos." Pensou um pouco. Até então ela só tinha sido legal, talvez, só talvez. "Tudo bem." E levou as mãos até as da moça, fechando-as ali; percebeu como as suas eram pequenas em comparação, assim como as unhas bem feitas da outra, muito diferente das dela própria, todas sujas. "Bom, quando eu era pequena, tinha uma coisa que gostava de fazer. Correr e pular até a cama. Você já tentou?" Pensou um pouco. A resposta talvez fosse já, mas nunca de um jeito divertido, e sim porque queria ficar sozinha ou chorar. Negou.

"Bom, você tem sua chance agora. Preparada?" Quase sorriu de volta, mas limitou-se a um gesto de ok com a cabeça. Dione começou a contar, de um até três, e uma sensação de desespero cresceu no peito da pequena; mesmo assim, esperou, pronta para quando devessem começar a correr e...!

(...)

Para Isabelly, os sete dias seguintes passaram num piscar de olhos. Num minuto, estava em um casa completamente distinta de todas as que já viu com um casal mais do que simpático "hospedando-a". Agora, no entanto, pouco a pouco o ambiente se tornava familiar. Ainda era asssutador, afinal era a primeira vez que passava por uma experiência parecida, mas sentia que podia se acostumar. Na primeira noite, por exemplo, depois que ela e Dione jogaram-se na cama, não demorou muito para que caísse no sono. Ficaram conversando - Dione contando um pouco mais sobre a casa e a rotina, ela só ouvindo com atenção -, até que dormiu. Quando acordou, diferente do que acontecia no orfanato, viu alguém por perto; alguém que parecia se importar com ela.

Desde então, já tinha conhecido todo o exterior da 'mansão', formado por uma piscina, uma área com uma churrasqueira e até um playground bem enorme. Os empregados eram todos respeitosos com ela, o que era estranho, um tanto quanto assustador, mas de vez em quando eles faziam uma coisa para animá-la - logo no terceiro dia, ao acordar, recebeu um pouco de sorvete na cama, quando uma das moças descobriu que era seu doce predileto. Aos poucos conhecia tudo que tinha em seu quarto, não que fosse capaz de alcançar todas as coisas. Mas o mais legal era quando Anthony e Dione estavam em casa. Eles pareciam trabalhar bastante e por vezes alternavam, mas quando estavam os dois lá era só diversão - prometeram que a levariam para conhecer a França, não a França que via pelo orfanato, mas sim a verdadeira. E eles se divertiam juntos. Anthony era bem menos sério que Dione, enquanto ela se preocupava com tudo, ele parecia confiar em Isabelly. Já Dione era quem estava lá toda noite, quando Belly acordava com pesadelos; não parecia se importar de dormir ali ou aparecer de súbito.

Naquela manhã, por exemplo, num domingo quase qualquer, encontrava-se sentada no colo de Anthony. Não mais cedo que aquele dia descobriu que ele era um bom contador de histórias - não do tipo que a narração é boa ao ler um livro, mas aquele que inventa as coisas mais fantásticas sem usar coisa alguma de base. Era quase como uma visão de pai e filha, e talvez fosse mesmo, Isabelly ali, ouvindo o que ele tinha a dizer. Naquele ano descobriu quão fácil era perder-se nas palavras. Ler, ouvir, não importava como, simplesmente mergulhar numa história de um jeito tão profundo que você não sabe, nem quer saber, se é possível sair. Preferia assim, em parte esquecendo os problemas e coisas ruins, em parte focando naquilo que fazia bem verdade.

"Eu vejo que vocês dois estão se dando bem." Dione sorria ao se aproximar do marido e de Isabelly, o celular pendendo em uma das mãos, os cabelos levemente embaraçados apesar de presos, e uma expressão de preocupação impossível de ser enxergue pela, até semana passada, quase 100% Runcorn. "É a história da fada e o camundongo verde?" Ela conhecia o marido, ele sempre dizia ser uma de suas prediletas na infância; imaginava que fosse. Ao mesmo tempo, aproximou-se dos dois, beijando Anthony nos lábios logo após beijar a testa de Isabelly. Sorriu com a confirmação. "E ele já chegou na parte que o camundongo rapta a fada?" Brincou, mas o coração de Belly perdeu uma batida. Ela estava totalmente encantada com a história e... ele não podia achar a fada! A fada era boa, ele não. "Ele consegue?" Só o seu olhar já passava terror. "Brincadeira, pequena. Prometo que o final é feliz." E Dione piscou antes de sair. Parou, no entanto, no meio do caminho.

"Belly, o que você acha de vir ao meu trabalho no fim dessa semana? Eu sei que é um pouco cedo, mas acho que você gostaria." Quase cruzou os dedos, mas manteve a postura. Queria que ela fosse, conhecesse um pouco do que fazia; era uma sensação estranha, aquele desejo, mas estava ali. Gostava de Isabelly. Por mais fechada que a menina fosse, era carinhosa também, consigo, e mais do que receptiva em alguns momentos - tinha a certeza de que se quebrasse aquelas barreiras iniciais, então seria sim como se ela fosse sua filha, 100%.

Aquele foi, afinal, o início de alguns dos melhores meses na então curta vida de Isabelly.

Já diziam os sábios, todas as coisas boas chegam a seu final.

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