- Angeline Forbes Hearst
- Mundo Mágico
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Minha história começa, como tantas outras, com meus progenitores. Minha mãe, Ella Cleef Forbes, engravidou aos 18 anos e eu nasci, nove meses depois, sem complicações. Uma criança linda, saudável, de boa família e cercada de todas as regalias e mimos que o dinheiro pode comprar. Não posso reclamar. Fui criada na casa dos meus avós até completar 8 anos de idade, quando mamãe conheceu Petter por quem se apaixonou e casou dois anos mais tarde. Após o matrimônio de meus "pais", passamos a morar juntos na Bélgica, meu país de origem, mas logo nos mudamos para Romênia por conta do emprego do meu padrasto. Estranhamente, mamãe recusa-se a falar sobre meu verdadeiro pai, sequer sabia seu nome até exatos três anos. Em determinada época ela me contou que ele tinha morrido em um trágico acidente. Contudo, quando criança, escutei conversas e investiguei um pouco mais afundo até perceber a mentira que me faziam engolir. Minhas esperanças estavam certas o tempo todo. Vovô, meio a contragosto, admitiu que meu pai estava vivo. Naturalmente, aquela informação me aguçou a curiosidade, porém por mais que eu perguntasse todos se recusaram a dar qualquer indício de quem ele era. Com o tempo cheguei a conclusão que seria inútil forçá-los a me dizer algo. Aos 11 anos, como todos os meus antepassados, recebi a esperada carta de Hogwarts. Não foi nenhuma surpresa quando aquela bela coruja parda entrou voando pela sala com o envelope preso na pata, afinal, nasci de uma linhagem de bruxos cujo orgulho jamais foi maculado por uma gota de sangue trouxa. Mesmo sem saber minhas origens paternas, atrevo-me a especular que meu progenitor também seja um bruxo, caso contrário, minha elitista mãe não teria se misturado com outros que fossem inferiores a ela. Conheço-a bem. Como todos em nossa família, fui selecionada para a casa esmeralda. Notas exemplares, desenvolvimento impecável, habilidade nata com a varinha. Tudo saiu conforme o previsto. Aos 12 anos uma pista sobre a identidade do meu pai se abriu diante dos meus olhos, detalhes sobre o mistério que assombrava meu passado. Em uma madrugada qualquer das férias escolares, ouvi minha mãe conversando com o meu avô sobre um certo magnata americano cujo sucesso e fama angariavam a atenção dos jornais touxas e, a princípio, não dei importância. Meu interesse naquele diálogo mudou ao notar que o homem de quem falavam era o mesmo com quem mamãe tinha se envolvido, há exatos doze anos atrás. Então, era sobre meu pai que falavam? Ele era um homem rico e influente? Trouxa? Buxo? Tinha tantas perguntas; não conseguia descrever a alegria que senti ao ouvir aquilo. Enfim, pude ter certeza de algo que sempre suspeitei e, eufórica, percebi que a verdade estava mais próxima do que imaginava. Passei os anos subsequentes à procura de mais informações, mas a inocência da tenra idade me impedia de ver com clareza o que estava diante de mim. Foi exatamente aos 13 anos que o conheci, embora não fizesse sequer ideia do real significado daquele encontro. Foi durante as férias de verão que o homem surgiu em casa na procura de minha mãe. Aparentemente se conheciam e, pelo modo como ela o encarava, logo supos que não se falavam a muio tempo e, com certeza, minha mãe não fazia questão alguma de manter contato com o destinto homem de terno impecável e semblante carismático. As visitas, repentinamente, ganharam frequência e, em algumas delas, o misterioso homem perdia horas conversando comigo assuntos corriqueiros e sem importância. As visitas viraram rotina, regadas de presentes, questionamentos e interesse mútuo. Conversávamos sobre a escola, sobre quadribol - mesmo que fosse nítido o seu desinteresse pelo assuno -, sobre o que eu queria ganhar de natal e sobre os sonhos estranhos que eu tinha durante a noite. Dois anos mais tarde, tudo fazia sentido. Anthony Thompson Hearst I, o homem das visitas constantes, era meu pai. No início, aturdida, fechei os ouvidos e isolei-me daqueles que só sabiam mentir para mim. Levou algum tempo até que nos reaproximássemos, ainda mais tempo foi preciso para que eu aceitasse a ideia. É curioso o modo como reagimos ao encontrar algo que tínhamos sempre procurado. Aos 16 anos, os sonhos se tornaram mais frequentes e confusos e, agora, não eram apenas durante a noite; aconteciam sem aviso, sem controle eu sofria as consequências daqueles "transes", perdendo completamente a noção do que acontecia durante o tempo que passava desmaiada. Foi Tony quem me ajudou a entendê-los e foi assim que comecei a chamá-lo de pai, aceitando nossa relação por completo. Meu pai explicou sobre a clarividência, disse que poderíamos encontrar ajuda para compreender como aquilo funcionava. Juntos descobrimos que a minha linhagem materna era antiga e repleta de outros com o mesmo dom que o meu. Agora com recém completos 18 anos, moro sozinha em Liechtenstein; um apartamento bem localizado e custeado pelo meu pai. Recentemente também assumi o sobrenome dele como meu, segundo papai, os tempos são difíceis e carregar um sobrenome conhecido pode conferir certa vantagem. Atualmente, meu pai trabalha no ministério da magia como Cacique da Suprema corte, mas vejo a preocupação em seus olhos. Algo está acontecendo. Ha alguns dias ele disse que conheceríamos um amigo seu cujo conhecimento pode ser crucial para aprimorar meu dom e interpretar minhas constantes e desconexas visões. As dores de cabeça aumentaram e com elas os crescentes ataques do bruxo a quem todos chamam de mascarado; não estamos mais seguros como antes. Papai queria que eu me escondesse, me mudasse para outro lugar, mas fui irredutível. Quero fazer parte disso, quero ajudar de alguma forma e foi quando ele se convenceu que eu era tão teimosa e determinada quanto ele próprio. Em breve nos encontraremos com Bartholomeu Loebens, chefe dos inomináveis, quem parece saber perfeitamente a forma como serei útil.
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