- Grant Macbeth
- Mundo Mágico
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Nasci no dia mais importante – claramente importante por que foi nesse dia que apareci para iluminar o mundo – de novembro. Acredito que meus pais, nove meses antes, tiveram uma bela noite de prazeres inestimáveis, afinal como eles poderiam ter gerado uma pessoa tão espetacular quanto eu? Dizem que quando minha mãe deu a luz, os médicos começaram a chorar, as enfermeiras a se abraçar e houve uma comoção no hospital inteiro. Vieram pessoas de todos os lugares para me ver, trouxeram presentes. O prefeito decretou uma semana de festas em homenagem ao meu nascimento e numa nobre cerimônia entregou a chave da cidade para meus pais. O que mais posso dizer? Até o espelho se ajoelha diante de mim. Californiano com muito orgulho, sempre adorei o clima quase tropical e o ar um pouco abafado misturado com a maresia que o mar sempre me ofereceu. Os meus pais sempre falaram que eu deveria ter nascido com cauda, barbatanas e guelras em vez de braços e pernas, afinal, sempre curti surfar e nadar. A minha infância foi bem aquática, meus amigos sempre me acompanhando, seja na praia ou na piscina de casa, quando não íamos no Wet’n Wild em comemoração dos meus aniversários. Foi uma das coisas que mais senti falta quando completei onze anos e ingressei na Escola de Magia e Bruxaria de Ilvermorny. Situada no pico mais alto do Monte Greylock, Massachusetts, o clima semitropical deixava apenas rastros de nostalgia pelo ar. As ensolaradas manhãs foram substituídas por manhãs enevoadas onde não se conseguia enxergar um palmo diante de meu nariz. Era um pouco claustrofóbico, apesar de saber que claustrofobia não significava bem aquilo. Para mim sempre fez sentido. Depois de ter sido escolhido por duas casas na cerimônia de seleção, com o Pássaro-trovão batendo suas asas e a Pantera Pumaruna dando um rugido ao mesmo tempo, eu tive a oportunidade de decidir qual seguiria. A casa do Pássaro-trovão prezava pela alma, pelos aventureiros, enquanto a casa da Pantera Pumaruna prezava pelo corpo, pelos guerreiros. Bem, pelo menos era o que dizia o livro que fui obrigado a ler por minha mãe antes de ir para Ilvermorny. Foi uma escolha difícil e se eles me colocassem nessa situação novamente depois de onze anos, minha resposta ainda seria uma grande interrogação. Eu era mais do que um corpo. Eu também tinha uma belíssima alma, sempre fui bastante espiritual e acreditava que era esse meu ser interior que trazia a minha vida em perfeita harmonia. Também gostaria de estar na casa dos guerreiros, mas isso poderia me deixar com uma ideia de brutamontes sem cérebro. Com muita dificuldade escolhi o Pássaro-trovão. Fui recebido com grande alegria por seus integrantes, assim como seria recebido, tenho certeza, pelos filhos da Pantera. Os anos se passaram e eu fui crescendo majestosamente. O meu desejo de criança foi realizado quando em meu segundo ano entrei para a equipe de quadribol de minha casa como artilheiro. Se vocês forem para Ilvermorny tenho certeza que verão minha estátua na sala de troféus por ser o artilheiro que fez mais gols em toda a história da escola. Tornei-me capitão da equipe em meu quarto ano e em meu último ano escolar terminei meu quinto namoro. Eu não conseguia me apegar a alguém por muito tempo, para isso precisava sentir a intensidade que eu mesmo experimentava em todas as coisas que fazia. A pessoa teria de entrar com a cabeça, o corpo inteiro, no relacionamento. Se o namoro fosse superficial, este acabava rapidamente. Mas é claro que me diverti bastante, afinal, eu era o festeiro da década. Aproveitei que saí com um curriculum esportivo positivo de Ilvermorny e comecei a jogar na categoria de base de um time da segunda classe do Torneio de Quadribol do Estados Unidos. Permaneço nele até o presente momento, mas infelizmente como reserva, já que o meu treinador não consegue aguentar minha personalidade em campo. Sou muito competitivo. E também bastante cabeça-quente. Para não dizer um pouco inconsequente e irresponsável quanto as ordens da equipe. Qualé, o que vocês esperam de um garoto de 22 anos? Eu ainda jogava vídeo game com meus parceiros nas noites de folgas, além de sair para baladar e encontrar qualquer garota para esquentar minha cama nas noites frias. Morava em um lugar que eu e meu amigo de equipe partilhávamos, meus pais sempre me enviando alguma ajuda financeira, quando não era eu que enviava para eles goldens. Sempre fui um filho bom, só um pouco arteiro.
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