Sua exclamação ao perceber quem estava chamando-a deixou claro sua surpresa. Não só isso, mas a voz agitada, o modo como seu corpo parecia encolhido, entre outros sinais, indicavam-me que, no mínimo, ela estava fazendo alguma coisa errada. Na melhor das hipóteses era errada apenas para si e mesmo assim não queria ser encontrada. Na pior... Mesmo assim, precisava agir com sutileza e, por que não?, animação. Não era todo dia que se encontrava a professora chata de etiqueta numa situação estranha, não é? ─ Mamãe permitiu que eu viesse visitar uma amiga. Pelo visto nenhuma de nós esperava por esse encontro. ─ Era quase um jogo, por mais que aos meus catorze anos não estivesse tão alerta sobre o fato. Ainda assim, tinha consciência de que ainda não era o melhor momento para questionar o que ela fazia ali, também. Se para uma menina de catorze anos era estranho estar por aquelas bandas naquela hora da noite, imagina então uma velha senhora com uma reputação a zelar? Não que fosse má a ponto de querer trazer problemas para ela, só muitíssimo curiosa. Além do mais, se quisesse mesmo trazer problemas, já o teria feito.
─ Sinceramente, madame? Acho que a maioria das pessoas sabe que eu vivo fazendo coisas erradas. ─ Falei, ainda num tom sincero, até porque era uma daquelas coisas que pareciam-se mais com verdades do universo do que qualquer outra. E também era verdade que aquela senhora vivia tentando me ensinar o modo mais certo de portar-me em sociedade e a controlar-me, mas não permitiria que alguém mudasse, nunca, meu jeito de ser. Acompanhei-a, então, meus olhos perseguindo o local para ver se não estava em algum tipo de emboscada. Afinal, sabe-se se lá se ela estava planejando alguma coisa, certo? Por sorte ainda estávamos apenas nós duas ali, e virei-me ao ouvir sua pergunta, as marcas da etiqueta aos poucos parecendo ser ignoradas. ─ Bom, é verdade que nós duas precisamos discutir, mas mamãe realmente deixou-me vir aqui. Você talvez tenha ouvido o barulho de uma das minhas criadas desaparatando, ela me acompanhou para certificar-se de que tudo estaria bem. Eu a dispensei. Tenho catorze anos, não sete, posso andar por aqui sozinha, pelo menos até a casa onde deveria. Uma pena que meus planos foram desviados, não acha?
Claro que aquela fala inteira era perigosa. Marietta ainda não deveria ter desaparatado, só esperava que ela fosse inteligente e saísse dali antes de fazê-lo, ou desse um jeito de abafar o som. Em segundo lugar, abriria margens para que ela me levasse a casa de minha companheira e aquela conversa se encerrasse. Sendo assim, olhei-a, não dando chances de que fizesse algum comentário, como ela mesmo fizera anteriormente, e questionei. ─ Sabendo o que estou fazendo aqui, acho que é justo que eu saiba o que você está. E se isso de alguma forma te consola, posso manter segredo sobre esse encontro. Claro que vou precisar de alguma coisa em troca, mas acho que já sabe o que é. Um mês livre das aulas de etiqueta, tirando os poucos dias que a mamãe vem se certificar que eu estou participando. E nesses dias você só fará perguntas sobre coisas que eu já aprendi. Certo? ─ Não ergui minhas mãos, não era necessário. Era marota, sim. Vivia arrumando confusão, também, e amava quando brigavam comigo por algo que eu fiz achando que era o certo, pelo menos para mim. Todavia, nunca deixei de cumprir uma promessa.