"Por favor, não me toque."
É com este tipo de frase que a pequena Lana costuma advertir as pessoas que gostariam de se aproximar dela. Por incrível que pareça, a menina se sente melhor com pessoas que respeitam seu espaço. Sua reserva. Sua fortaleza, aparentemente impenetrável e inatingível. Era isso que a menina queria fazer parecer diante das pessoas, antes que alguém tentasse um contato além do verbal com ela.
De fato, a ucraniana nunca quis uma aproximação maior do que aquela que pudesse controlar. Afinal, já foi subjugada a várias humilhações na infância. Foi fruto de tempos difíceis na Ucrânia, onde a hostilidade entre bruxos e trouxas só crescia. O seu pai, trouxa, empresário no ramo alimentício, muito rico, casou-se com sua mãe, que revelava-se como "médica", para a união de duas famílias abastadas.
O grande problema é que durante o casamento, Nikolaj, que já tinha se unido a Laetitia puramente por conveniência, descobrira coisas aterradoras sobre ela. Foi neste momento que começou a série de maus-tratos, que já começaram desde o ventre, com socos e pontapés. Nikolaj tinha descoberto que Laetitia era bruxa, e se mostrara um verdadeiro fanático.
Os maus-tratos contra a grávida foram tantos, que a pequena Svetlana nasceu de 7 meses, apenas, e teve sua mãe morta durante complicações no parto. Por um tempo, ela ficou com seus avós por parte de mãe, que lhe deram uma infância segura e sem mágoas até os cinco anos de idade. Quando eles morreram. E assim, ela voltou para Nikolaj, que aesta altura, já estava com uma outra mulher, trouxa, chamada de Ivna.
Os anos seguintes com Nikolaj e sua madrasta, Ivna, mostraram-se como um calvário para Svetlana. Nikolaj via-a como um demônio e praguejava contra Laetitia todos os dias, para que a jovem Lana escutasse. E além disso, depois de ouvir impropérios da mãe pela boca de sua madrasta, quando tentava reagirao proteger a memória de sua mãe que nunca chegou a conhecer, ela levava tapas em seu rosto.
O espírito infantil de Svetlana, mesmo assim, resistia, tentava conviver, de maneira submissa com seu pai, para que não tivesse problemas e pudesse viver em paz. Mas este espírito não resistiria por muito tempo. Pois a maior mácula contra sua honra seria cometida em breve.
9 anos de idade. Svetlana abria a porta para seu pai bêbado, que fugia e chamava-lhe de "bruxinha escrota". Entre outros adjetivos piores. E estapeava-lhe em seu rosto. Até ali, tudo normal. Até que algo diferente começava a ser feito. Suas roupas eram rasgadas com ferocidade e arrancadas de seu corpo. O hálito fétido de whisky barato invadia as narinas da pobre criança assustada. Sentia nojo do toque de suas mãos sujas e de sua boca que salivava por todo o seu corpo. Da invasão que lhe seria feita em breve.
Lana havia sido brutalmente abusada por seu pai. Que logo depois recolheu-se ao seu quarto. Ivna, ao ver a pequena sem roupas no chão, gritou, de maneira a acordar a garota parcialmente de seu desmaio, apenas para golpear aquele corpo já frágil pelo abuso. E logo depois de uma forte discussão com Nikolaj, Ivna saía de casa. Ela nunca mais foi vista.
No coração de Svetlana, naquele momento, o seu lado infantil havia morrido, perecido. Agora só lhe restava o desejo de ódio e vingança. Com isso, em uma noite, observava o seu pai preparando a janta apenas para ele. Olhava-o, com todo o ódio que podia. Instintos assassinos inevitavelmente, invadiram sua mente. Até que aos poucos, facas e garfos sobrevoavam ao redor de Nikolaj, que mandava Lana parar com aquilo. Ela estava assustada, porém seu ódio continuava. Ela não podia evitar. Era o seu sentimento que faria com que o pior acontecesse.
Nikolaj foi morto. Perfurado por várias vezes, por utensílios de cozinha.
O Ministério de Magia da Ucrânia rapidamente resolvera a situação. Colocara a pequena bruxa sob seus cuidados, enquanto tentava convencer a todos de que a morte de Nikolaj foi um mero acidente. Agora, Svetlana estava sozinha. Mas não achava isso ruim. Pelo contrário. Estava aliviada.
Desde aquela época, cobria o seu corpo com longos e grossos tecidos, aproveitando o frio europeu, mesmo em épocas mais amenas. Tinha medo de ser tocada novamente. Evitava contato corporal com as pessoas, o máximo possível. Toda vez que era tocada, mesmo em um simples esbarrão, vinha-lhe as lembranças dos tapas e do abuso que recebeu.
Aos 11 anos, recebia uma carta para Hogwarts. Com permissão especial, moraria na Inglaterra, sozinha, vivendo dos rendimentos da fortuna de seus pais. Além disso, apenas precisava aguentar as visitas de um tutor ucraniano uma vez por semana. Assim, ficaria o tempo livre para investir em si mesma e em seus próprios pensamentos.
Tinha um ódio guardado em seu coração. Um ódio que tendia muito à ironia, ao sarcasmo e ao humor negro. E desembocara no próprio preconceito que desenvolveu contra os mestiços e nascidos-trouxas. Mesmo que ela tenha um pai trouxa... aliás... talvez exatamente por isso, tenha desenvolvido ideais um tanto tortos para o Mundo Mágico atual.
"Minha mãe foi usada por aquele animal. É inaceitável deixar que uma pessoa pura de sangue se envolva com um tipo desses como era o meu pai trouxa, não importa a quantia de dinheiro em jogo. Odeio cada gota de sangue não-mágico que existe em mim."
[Ojesed] - Maior Sonho: Chegar em um certo ponto da escala de poder e se fazer respeitada.
[Bicho Papão] - Maior Medo: Ser tocada.
[Dementador] - Memória: Abuso cometido pelo pai.
[Testrálios] - Viu a Morte?: Sim.