A VISÃO
O centro de Paris era um lugar repleto de comerciantes e aproveitadores, entre eles estava Pierre Aurillac, um jovem cigano que afirmava ler o futuro dos trouxas da cidade, porém sua adivinhação nunca falhava, despertando grande interesse entre os bruxos, que mantinham segredo sobre sua magia. O rapaz, porém, fora criado com uma família adotiva e não conhecia seu próprio poder. Sim, Pierre era um bruxo, um bruxo que aprendera tudo sozinho e nunca tivera a chance de estudar, todo seu conhecimento vinha dos costumes ciganos e ele próprio era cético. Conforme seu nome foi ficando conhecido no mundo trouxa, uma família de sangue-puros, em especial, decidiu esclarecer os fatos. Cloud Gauthier era um sábio, que vivia sozinho em seu castelo, tendo como companhia apenas livros e sua filha, Claire, que não recebia muita atenção do pai, afinal, o sonho do homem era ter um menino. O líder Gauthier encontrou em Pierre a chance perfeita de realizar seus sonhos, adotando-o como aprendiz e pronto para ensiná-lo tudo o que sabia. O joven cigano, assim, aprimorou suas habilidades mágicas e tinha tudo para se tornar um mestre na adivinhação.
Um dia, Pierre preveu o nascimento de uma menina de cabelos laranjas como os dele próprio, porém, com olhos azuis como os de Claire, deixando óbvio que ambos teriam uma relação que não seria aprovada pelo velho Gauthier. Nenhuma visão do rapaz não se realizara e, conforme os anos iam passando, mais sinais eram dados de que a relação entre ele e a menina estava crescendo, principalmente com a doença de Cloud, uma doença desconhecida e sem cura. Seus filhos se uniam para discutir o que fazer com o líder, porém o assunto era, frequentemente, dirigido a eles próprios. Não, ninguém sabia sobre a previsão de Pierre, nem mesmo Claire. No dia da morte de seu pai, a mulher deu a notícia "Mais uma vida se vai, porém, outra está por vir".
A CRIANÇA
Como previsto, uma menina de cabelos laranjas e olhos azuis nasceu, Kamille Gauthier Aurillac, o fruto daquele amor inesperado. Desde cedo, a garota era ensinada, por sua mãe, a cantar, escrever e desenhar, como Claire sempre sonhara, e se revelou muito boa nessas artes. Sonhadora, a criança passava horas em seu quarto criando histórias de dragões e profecias, sem mostrar para ninguém, junto com as próprias ilustrações. Com 7 anos de idade, porém, Kamille descobriu seus poderes ao acender uma fogueira com o pensamento, revelando que a bruxa estava pronta para lições mais sofisticadas, que viriam de seu pai. Pierre dedicava todas as manhãs à pequena, para lhe ensinar feitiços básicos junto com fatos do mundo bruxo, enquanto isso, a menina ia se admirando cada vez mais com as ciências aprendidas, apaixonando-se pela alquimia e adivinhação, sonhando em ser tão boa quanto seu pai.
Todas suas aulas em casa, porém, foram interrompidas quando Kamille completou 11 anos, podendo ingressar em Beauxbatons. "Passei minha vida nessa casa e o mesmo não vai acontecer com você, minha filha" argumentava sua mãe, obrigando a menina a entrar na academia para aprender com os melhores do país. Com lágrimas nos olhos, então, Kamille fez suas malas e entrou naquela carruagem, pronta para separar-se de sua família e conhecer novas pessoas.
O PRESENTE
Tímida, Kamille tinha dificuldade em fazer amigos e se refugiava nos livros e pergaminhos, estudando por conta própria assuntos indicados por seu pai em cartas, escrevendo suas histórias fantasiosas e desenhando tudo o que via. Realmente, estudar fora de casa não era tão ruim assim, estava construindo seu próprio caráter longe de seus pais. No fundo, a garota queria que os outros vissem suas qualidades, estava se tornando uma menina determinada e de opinião forte, defendia os que mereciam e seria uma amiga leal aos que se arriscassem a prezar sua amizade, seus poucos amigos eram ótimos companheiros e sentiam-se seguros em revelar segredos, Kamille era ótima com palavras e não era orgulhosa, contava suas próprias preocupações e se expunha, deixando os outros mais confortáveis. Divulgar suas histórias fantásticas era um constante problema, mas seu caderno de desenhos passava por todas as mãos e sempre recebia elogios motivadores. Sem dúvida, falar sobre ciências era mais fácil do que as artes, eram fatos, enquanto as artes eram demonstrações de seu coração.