"Somos bruxos de sangue extremamente puro, logo, devemos agir como tal. Não se misture com aqueles trouxas.", diziam para mim desde pequena.
"Enquanto seu irmão estudará em Durmstrang para se tornar um homem louvável, você estudará em Beauxbatons para se tornar uma boa dama, de forma a aprender a ser sempre bela, delicada, afável, doce e gentil.", explicavam, encarando-me com toda aquela frieza distante e típica de uma família tradicional como a minha.
"Quando chegar a hora, encontraremos um homem honrado para que você se case, assim sendo, mantenha-se pura e intocada até lá.", foi o que ouvi inúmeras vezes eles dizerem.
Então eu me formei.
"Desculpe desapontá-los, senhor pai e senhora mãe, mas sua filha já deixou de ser pura e intocada há tempos, está pouco se importando com essa besteira de sangue - video-games e skates são muito legais - e, com toda a sinceridade, em Beauxbatons ela aprendeu muitas coisas, menos a ser uma boa dama - olha que eles até tentaram. Agora, se me dão licença, uma vez que essa filha é maior de idade e pode usar magia livremente, ela vai viver a vida dela que ela ganha mais. Brinquem de ser tradicionalistas com Hwan. Ele não liga mesmo." - e com um sorriso sarcástico eu sai de minha casa em Seoul para nunca mais voltar.
Foi maluquice? Bastante, ainda mais sem ter um tostão que fosse no bolso. No entanto eu já não aguentava mais aquele lugar, sentia-me asfixiada, presa. Sair de casa não foi fácil, claro, tive que me virar, trabalhar como uma condenada, sair fazendo bicos aqui e ali, dormir pelos cantos, quase me ferrar algumas vezes - sorte que Mélusine sempre estiveram ao meu lado -, mas foi libertador. Não precisava me preocupar com pudor ou ser perfeita, não precisava seguir os mandos e opiniões alheias.
Agora, passados quase dois anos desde meu distanciamento familiar, nem mesmo pareço a mesma pessoa que era ou aparento ter passado por tanto perrengue. Comecei a trabalhar no ministério de Vaduz, o que me fez mudar para lá, pintei meus cabelos como sempre tive vontade, arrumei meu guarda-roupa com vestes que eu achava legal, organizei minha vida como eu queria. Trabalho, saio, me divirto, recebo companhias e faço companhia, uma vida livre. Tinha exatamente tudo o que eu precisava.
...Ou ao menos era o que eu imaginava.