Quando uma Águia se apaixona, os grandes espíritos dizem que é por toda a eternidade. Não há traição, nem crueldade ou mágoa, apenas um mar sereno de amor e cumplicidade. Meu pai foi apelidado pelo Chefe como Wohali, pois, assim como o grande pássaro dos céus, tinha visão aguçada e fome por liberdade. Ele nunca pensou que, a chegada de uma menina curiosa em sua tribo, numa reserva indígena de Curry Count em Oregon, o faria sentir que uma prisão repleta de beijos e braços entrelaçados seria melhor do que correr solto por aí.

Anelise Maria era uma espanhola de opinião forte e cheia de segredos. Ela se interessava pelas técnicas curativas indígenas e nunca saía de perto dos velhos sábios. Mais tarde, Wohali viria a descobrir que aqueles cabelos loiros e olhar radiante como o sol escondiam uma verdade: a garota era uma bruxa.

Com ela, o rapaz superou os preconceitos da História e se alegou àquele sentimento que, aos poucos, só crescia. Logo. Anelise trouxe a grande notícia de que a Águia teria um filho. Ela permaneceu na tribo até poder dar a luz, porém, sua imagem murchava cada vez mais, o que preocupava o índio.

Quando o bebê finalmente nasceu, a linda e espessa pelagem negra em sua cabeça o deu o nome de Koi que, na linguagem original da tribo, significava Pantera. Por alguma razão, a espanhola não parecia feliz com o nascimento do filho, mais ainda com a falta de semelhança entre a criança e ela. No fundo, desejava sair dali assim que o ele nascesse e esquecer completamente de sua aventura. Se Koi ao menos compartilhasse de seus fios dourados, poderia dizer que foi fruto de uma aventura com outro bruxo, todavia, o bebê era inegavelmente indígena.

A verdade era que a garota não passava de uma mulher mimada, criada por uma família rica de sangue-puros. Jamais aceitariam um herdeiro mestiço, ainda mais de tal linhagem. Foi dessa forma que, numa manhã, Wohali acordou sozinho, o filho chorando ao seu lado e nenhum sinal da mãe. Chorou por duas semanas inteiras, sem sair da cabana de madeira onde morava. Inúmeros sábios da tribo lhe visitavam para alimentar não só o bebê, mas a ele também.

Koi foi chamado, por fim, de Koi Magena Yahto, que significava: Pantera da Lua Azul, sem sobrenome materno, apenas um hierograma usado pelos nativos, um presente dos espíritos. O menino cresceu forte, dono de uma criatividade inata. Não havia mistério na Terra que ele não questionasse e nem árvore alta demais para escalar. Aos poucos, a criança se tornou o orgulho de sua tribo ao desenvolver habilidades inexplicáveis, até mágicas por assim dizer.

Não foi uma grande surpresa quando a carta de Hogwarts chegou, convidando o pequeno a frequentar uma escola há quilômetros de casa, como sua mãe havia feito antes dele. O pai, relutante, permitiu, sabendo que aquilo seria o melhor, assim, Koi encontraria seu passado sem ter de lidar com uma mulher que o abandonou.

Esperto como era, foi selecionado para a Corvinal e viveu anos incríveis, repletos de descobertas e, cada vez mais conhecimento. Fez amigos que eram como ele e usava o período de férias para visitar a família e mostrar o quanto havia aprendido. Assim que se formou, Koi se tornou um ativista importante das causas indígenas em Oregon, criando canais de facilitação para que os seus fossem mais integrados à sociedade americana. Levou também o progresso interno, criando programas sociais e empregatórios para os nativo-americanos.

No mundo bruxo, Koi alternativa entre a diplomacia e as sombras do anonimato. Não gostava muito de aparecer, uma vez que, o universo trouxa sempre foi sua casa. Porém, com o progresso chegando à tribo e tantas mudanças, talvez fosse hora de integrar um pouco mais da parte do seu sangue que renegava com louvor e, quem sabe, esquecer que era um bruxo por causa da mãe e pensar mais sobre o fato de que era um bruxo, sim, mas por si próprio.