Quem diria que, dentre tantas pessoas, Yeva seria a primeira a abandonar suas origens e deixar aquele lugar para trás? Nascida e criada em um dos vilarejos de Vayotz Dzor, uma província à sudeste da Armênia, Yeva Hermine Saroyan cresceu junto de sua irmã mais velha, Nazani, de sua mãe e também da avó. As quatro sempre se deram bem, ao ponto de raramente chegarem à uma discussão sem que houvesse necessidade; e, claro, nunca havia. Aquele parecia ser o mundo perfeito aos olhos da jovem Yeva, que ainda com pouca idade, demonstrou grande habilidade e conhecimento de sua própria magia, antes mesmo do que imaginavam que aconteceria.
As mulheres mais velhas, no entanto, temiam que aquilo as afastasse. A magia era quase um tabu naquele vilarejo, puramente habitado por bruxos... Ou melhor, apenas bruxas. Não se via ou ouvia falar de um único homem naquele lugar, o que tornava o medo ainda maior e a preocupação de continuar com suas tradições sem que ninguém as questionasse ou atrapalhasse de alguma forma. Contudo, era uma escolha indubitável que todas, sem exceções, fossem mandadas às escolas, para aprenderem da melhor maneira sobre o mundo bruxo, tanto quanto já aprendiam com suas famílias.
No entanto, era obrigação dessas jovens retornarem à sua casa ao fim dos estudos, que não abandonassem suas raízes mágicas como todos os outros faziam. As mulheres do vilarejo viviam como verdadeiras eremitas, temerosas de perderem seus vínculos com a natureza e tudo o que dela haviam retirado para dar continuidade às suas tradições. Yeva agiu como era esperado de qualquer outra. Após encerrar seu tempo de aprendizado em Beauxbatons, voltou à sua casa apenas para descobrir que, Nazani, a irmã mais velha, seguira os passos de sua mãe, assim como esta havia feito com sua avó.
Nazani estava grávida. Não demorou muito para que a criança viesse ao mundo e, ao descobrirem ser um menino, não havia outro jeito que não entregá-lo à seu pai, para que o criasse como se fosse um milagre dado pelos céus, porque era desta forma que as bruxas os faziam acreditar. Yeva tinha para si que era a maneira errada de agir, que os costumes deveriam ser esquecidos o quanto antes para não prejudicar a mais ninguém, pois o que aquela mulheres faziam era, nada mais, nada menos do que pura libertinagem.
Algumas noites após ter adoecido, a avó de Yeva veio a falecer. Foi naquele momento que se decidira, de uma vez por todas, cortar todo e qualquer vínculo que tinha com sua família, ou o que restara dela ao menos, antes que fosse tarde demais para que conseguisse fugir do que suas raízes a obrigavam a fazer. Preferia conhecer o mundo e seus diversos costumes do que continuar presa naquele lugar que apenas a iludira com a proposta de ser o mundo perfeito para si. Queria, finalmente, poder decidir o que fazer sem ter de dar importância aos costumes baratos de mulheres de hábitos profanos.
[Bicho Papão] - Maior Medo: Tornar-se alguém como sua mãe ou irmã.