"Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota".
Satoru era um fracassado útil. Desde criança, estava acostumado a ser consultado antes das pessoas a sua volta tomarem qualque decisão, porém, jamais era levado em conta nos momentos em que tinha que opinar acerca da própria vida. Às vezes, perguntava-se quando começaria a caminhar com os prórpios pés, desvendar o mundo, conhecer pessoas, lugares, ter suas experiências pessoais... Até que entendeu que esse momento jamais viria. Sua educação foi cem por cento japonesa, sem espaço para brechas ou reticências, com poucas vírgulas e parágrafos curtos, cheios de pontos finais, definitivos. Ser perfeito era exaustivo, deprimente, para dizer o mínimo. Ele parou de tentar, cansou de se opor a tudo e simplesmente seguiu a maré.
Seiryu era uma casa fria, feita para pessoas como Satoru. Gente sem sentimento e que prezava a lógica acima de tudo. Foi lá que ele passou a maior parte de seus anos infelizes da adolescência negada. Estudos, livros e atividades extracurriculares, tudo para ser o senhor formando sem defeitos, com uma estrela dourada na testa. Não fosse os cabelos negros, seria o próprio Dragão Branco, símbolo da casa que lhe dava o uniforme branco do elemento de ar. Não posso dizer que não foi um alívio ter terminado os estudos, mas, ao mesmo tempo, a vida parecia ainda mais vazia. Dezessete anos e nenhum plano além do que já tinha sido esquematizado pelos pais para ele. Sua frieza, enfim, chamou a atenção de um mestre em particular, um homem que nunca foi bom em ser empático, mas que passava por uma fase nova em sua vida e precisava de ajuda para que os ensinamentos de outro falecido grande bruxo das trevas não morressem com ele.
Eithan D'Alterre Florenzza não falava muito, mas sabia das coisas. Ele se aproximou do japonês numa noite fria de inverno e o entregou uma chave de portal que, em segundos, os levou para a fazenda londrina onde o Escocês morava. Sem delongas, Eithan convidou Satoru para continuar seus estudos nos caminhos das trevas, ali, com ele, um bruxo bem mais velho, de passado duvidoso, cuja trajetória ele nada sabia.
Há um ano estavam juntos, treinando, morando, criando um laço de amizade poeirento que, vez ou outra, era preciso ser remendado. A verdade era que, o jovem não tinha paciência para aprender tantas coisas incríveis no rítmo que seu mestre estava disposto a ensinar e também não gostava nada de ser obrigado a tomar conta de uma criança remelenta enquanto o tutor desaparecia por noites a fio. Todavia, ainda era melhor do que ficar no Japão. Ali, não tinha amarras e nem correntes, não tinha uma legião de setecentos Ichibangase's sedentos por poder e loucos para vê-lo cair da pior forma. Ainda que ficasse preso ao mestre, era melhor estar a ele do que ao próprio sangue.
E, de qualquer forma, era por pouco tempo. Mais uns meses e ele estaria pronto para virar o jogo e se tornar o domador da própria história.