“Não sinto tua falta
Não sinto a falta do teu cheiro
De perfume importado
Que exportou de mim
Não sinto falta do teu erre puxado
Nem do teu beijo com gosto de dente
Que morde coração envenenado
Não sinto tua falta
Não sinto!
Nem lembro de você
Nem da tua respiração ofegante
Não sinto falta, eu sinto ânsia
Distância
Do teu signo-preto
Do teu silêncio grito
Sinto ânsia
E a provoco
Enfio os meus dez dedos na garganta
Pra ver se eu vomito teu ser
Da minha alma”
O problema é que eu sinto. Todos os dias. Na França ou no Japão. A dor da tua falta marca minha alma. Eu costumava ser feliz, sabe? A simplicidade sempre me encantou, inclusive aquela reservada a ausência sutil em dividir minha vida com alguém. Então, você chegou, mudando tudo o que tinha por certo, você com todo seu jeito de menina mulher, com a determinação que eu desconhecia. Você que me provocou em todos os momentos possíveis, que me ensinou o que era sentir ódio ao ponto de não mais o segurar em mim. E, em meio a tantas desavenças, o impensável aconteceu, porque a verdade é que em meio a raiva, também aprendi a gritar, a me mostrar, a ser mais do que um mero reflexo na parede, irônico que hoje, tão dona de mim, também não te tenha mais ao meu lado, você que me ensinou a lutar, também me ensinou a perder.
O fato é que nada é para sempre, como as ondas do mar movimentam-se em seu próprio ritmo, assim é a vida. A intensidade fugaz do momento é tudo o que vai ficar na ‘fotografia’ e é nesses momentos que devemos deixar nos preencher, o que vier antes ou depois, simplesmente não merece atenção. A dor, intensa e incalculável, também iria passar, não sei exatamente quando, até lá, contudo, pretendo vive-la ao máximo.
É engraçado, passei sete anos em Beauxbatons, aprendendo como me portar, munindo-me de todo o conhecimento que seria necessário para a chamada vida real. Meu plano sempre foi encontrar um bom emprego, comprar uma casa próxima à praia, onde surfaria todas as manhãs e agradeceria aos deuses por sair vitoriosa. Hoje, essa vida, tão almejada, já não me parecia tão vitoriosa, não quando tudo o que mais desejava era você ao meu lado, possivelmente por isso não mais tenho pretensões para com empregos formais, em verdade, meu único plano é o mesmo que regeu toda minha vida: Sobreviver.
Quando se cresce em um orfanato, apanhando todos os dias pelos mais diversos motivos, literalmente apenas sobrevivendo um dia após o outro, tudo o que se quer é estabilidade. O problema é que você me ensinou que existem dores piores do que as provocadas pelos murros dos garotos no orfanato, ou do cinto da mulher que deveria cuidar de nós. E a tão sonhada estabilidade apenas reforça a dor que rasga meu peito sempre que sua imagem me vem à mente, então, eu corro, como venho correndo desde que deixei Beauxbatons, como corri pela minha própria vida anos atrás quando ainda acreditava conhecer a dor.