Por alguma razão aqui estou, em meio a este patético espetáculo de tempo perdido e esforços despropositados. Todavia, uma vez que aqui me encontro, jogarei conforme as regras, farei o que me é pedido. Uma compensação pelas vezes em que minha voz foi ouvida quando não havia necessidade.
Pois bem, meu nome é Tanya Shuisky. Sou filha do firme e tolo patriarca da família Shuisky e de sua bela e fútil esposa, o que, alguns talvez saibam, torna-me irmã do idiótico reformado e que neste energúmeno contexto é mais conhecido, Ivan Shuisky.
Revelado este fato nada glorioso, aproveito a facilidade que isso traz para dizer que compartilho com ele alguns traços que podem ser relevantes, como ser russa, bruxa de sangue-puro e ex-aluna de Durmstrang. Similaridades que, somadas a algumas características físicas, acabam por aí.
De resto, somos como luz e sombra.
Diferentemente de meu irmão, por exemplo, minha mente sempre foi utilizada e esmerada, de modo que desde o início pertenci à dinastia Romanov, exibindo notas e desempenho que me eram as esperadas e foram aceitáveis o suficiente para, em meu último ano, alcançar a patente de Capitã, a qual acredito ser equivalente a monitoria-chefe em outras instituições de ensino. Um feito da qual deveria me orgulhar, sim, mas que é irrelevante para minha vida. Apenas mais uma das muitas denominações que me acompanham.
Minhas outras denominações?
A filha prodígio. A boneca perfeita. A donzela de gelo. Designações que, na verdade, nada mais são do que um eco do passado; o karma de se compartilhar traços com alguém que um dia teve importância dentro daquela família. Alguém que, na verdade, deveria estar no lugar de quem está no topo desta família, mas que sumiu ou morreu. Dramas. Típico da elite e mais ainda das famílias bruxas.
De qualquer modo, retornando, como as alcunhas anteriormente citadas dão a entender, atendo as expectativas à minha volta, fazendo jus a todos os treinamentos e ensinamentos recebidos, em casa e no instituto. Além disso, mesmo os mais ineptos perceberão que não sou uma pessoa de grande expressividade ou emoções. De fato. Ainda que carregue comigo algumas emoções que não transpõem minha face, meu entendimento quanto aos humanos é frio. Compreendo pela lógica os motivos de determinadas ações, reações e sensações, assim como respeito em muitos casos, mas daí a ser capaz de compartilha-los, isto é outra história.
Ou, ao menos era.
Não exporei ao certo o que quero dizer com estas palavras, afinal, se há algo que aprendi desde muito nova é que não devemos confiar em ninguém. Todavia, não sou uma pessoa de palavras vazias, deste modo, o que quis dizer é que existem mudanças ocorrendo comigo. Como ocorre com qualquer ser humano, possivelmente. Um processo natural e sobre a qual falaria mais se já não houvesse cumprido meu papel.
Deste modo, apenas para ter um vislumbre não apenas do passado, mas também do presente, como adulta e formada em Durmstrang, estudo sobre negócios, a magia e o mundo, utilizando os contatos e recursos que os Shuisky oferecem, a fim de no futuro ser útil, justamente, para esta família. De seguir como fui criada a seguir. De lutar como fui criada para lutar. De alcançar aquilo que eu almejar... Mesmo que o que eu almeje, talvez, seja diferente do que esperam desta boneca perfeita.
Mais uma parte do karma, talvez.
Certo. Chega.