“Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim”
O menino, esperançoso e cheio de sonhos, já não despertava, apagando do homem quaisquer vestígio que poderia existir do sensível, dos abraços cheios de sentimentos, ou dos beijos roubados em meio aos banheiros da Escola Militar. Os dias e noites já não tinham diferença, por que teriam? O General Cristiano Joseph Ferreira Smirnov II fez tudo o que lhe foi exigido, entregando sua infância nas mãos de uma guerra que hoje nem ao menos conhecia, afinal, ele não era uma criança, era um soldado e, como tal, possuía obrigações, deveria servir e orgulhar sua família, como vinha o fazendo desde que deixara Durmstrang, sendo um dos melhores de sua turma.
Obviamente, a missão era muito maior, Cristiano precisava se casar com uma mulher de boa família e ter uma própria, assim, Anna entrou em sua história, à princípio, sua melhor amiga, pessoa com quem dividia os fardos e desesperos de ser parte de uma elite tão pequena. A ideia, então, partiu do próprio Cristiano, quando soube que a amiga se encontrava grávida de um ser vil que lhe deu as costas sem hesitar, ele decidiu tomar para si a responsabilidade, propondo o casamento as respectivas famílias na mesma noite. As coisas caminharam bem, o jovem Cristiano conseguiu manter as tradições, encontrava-se feliz tendo sua melhor amiga ao seu lado.
Naquela época, o jovem Cristiano ainda sorria, brincava com a pequena Olívia e ajudava-lhe com a descoberta de sua magia... Os problemas, contudo, começaram quando a pequena Azealia veio ao mundo, inevitavelmente, Anna, que sempre foi uma mulher de espírito livre e sexualidade abundante, teve alguns casos pelo caminho, nada que pudesse abalar a força da união ditada pela tradição, claro e, como melhor amigo, o jovem nunca a reprovou, pelo menos não até que virasse verdadeira chacota entre os colegas e familiares, eles diziam que suas filhas não lhe pertenciam, como poderiam, ele pensava: Como poderiam não serem minhas quando esteve lá para trocar cada frauda? Quando sorriu abertamente ao escutar a palavra Papai e vibrou ao vê-las dar os primeiros passos?
O tempo, as palavras e decepções tornaram o Homem Cristiano uma pessoa distante, até mesmo as conversas com sua “esposa” tornaram-se cada vez mais raras e escassas, as filhas, cresciam de forma livre tendo no pai um ser pouco presente e extremamente frio, cujas poucas aparições em suas vidas poderiam ser resumidas em cobranças demasiadas, possivelmente por ser tudo o que conhecia. O mar, então, tornou-se refúgio, afinal, quando em seu navio, não poderia ser questionado, mais muros que se erguiam, mais portas que se fechavam e mais sentimentos que eram acumulados, afinal, ele não era um homem, era um soldado.
“De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás
Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo”